domingo, 28 de setembro de 2014

Sessão Lira do Delírio - "MENINAS do BRASIL"




A primeira, foi mútuo encontro. Ele com 20, ela 21. Raro presente da vida, tão cedo, tão bom, que acabou sendo deixado de lado após onze meses. Ele 'sabia' que precisava mais, para muito depois reconhecer que de nada precisaria naquela ocasião. A maturidade, era impossível no momento, avidez por experiências. Um irresponsável aborto de sentimento, não sem drásticas consequências. Sexo, com amor. Rosângela. 

A segunda, foi mútuo acaso. Ele com 25, ela também. Comunhão de tanto-fazes, tão mediana, tão descombinados que acabou encerrando-se após nove meses. Ele sabia que não precisava daquilo, para a todo instante indicar que sua função era a de psicólogo, não de companheiro. O aconselhamento, era o clímax do momento, sobra de solidariedade. Um misto de faltas de sentimentos, sem implicação alguma para qualquer tempo. Nem fizeram sexo. Lilian. 

A terceira, foi mútuo engano. Ele com 27, ela com 21. Somatório de ilusões, tão superficial, tão decadente, que findou após dezesseis anos. Ambos sabiam que não precisavam um do outro, para muito tarde reconhecerem a ausência total de perspectivas. Um velório de sentimentos desfalecidos, amortecidos, morridos, prolongado demais, com bastante prejuízo do passado. Há tempos, haviam parado de transar...de amar, mais tempo ainda. Simone.   

As outras foram sexo. E também umas que nem chegaram a ser isso. Algumas delas, poucas, frágeis lampejos de escrever. As inimagináveis, as possíveis e as iminentes. As do sonho, as da terra e as da lua. Ciclo, indo do nada passando por alguma coisa até voltar ao nada. Relações pré-determinadas, bilateralmente descartáveis, durabilidade sem quaisquer garantias até mesmo de um tempo presente. Um festival de limpezas, às vezes no imediato pós-coito, sempre com dificuldade de lumiar a alma, diante do complexo atrito social. Mas a noiva era um caso especialmente kundalínico, à parte. A noiva de um terceiro, coitado, outro brasileiro. 

Um estio diferente do de Caetano. Pois não houve Solange, Leila, Flávia, Sônia, Malena, Marina, Lúcia, Tereza, Glória ou Vera. Houve sim: Rose, Déborah, Ariane, Irlene. Talge, Cínthia, Beth, Adélia e sua irmã. Rosana, Carla, Ângela, Kélen, Denise. Marília, Maura, Marilete de Jesus. Gislene, Roberta, Isabel, Ana Paula, Luana, Melissa, Marcela e sua amiga. Biancas, Andréias, Sandras (ah, as Sandras...). Julianas, Valérias, Márcias, Marias. Sarahs, Rafaelas, Patrícias, Cláudias e algumas das quais ele nem lembra sequer o rosto. A recíproca se dá também e principalmente com o nome dele. Exceção memorial feita às coxas daquele Atleticano, onde as brasileiras, uma el-salvadorenha e claro uma paraguaia deleitavam-se na sangria da ordenha, algo animalesco demais para espíritos em ascensão, supletivando assim a ausência de diálogos, de palavras dançantes nas bocas sonoras, então reduzidas à 'bezos y calientes chupos'. Falando nisso, sacramentou-se sua sina: ninguém no mundo todinho escreveu sequer uma linha sobre ele. 

Mas o leitor mais imediatista e não reflexivo concluiria facilmente - e como é rasteiro olhar a vida pelos meios mais rápidos e mais fáceis - que isso é mera ou barata demonstração de tara, lascívia, luxúria...quantidade, leviandade ou promiscuidade: não, absolutamente: isso é apenas idade. Coisas da memória deste exato momento, do subconsciente, que guarda até quem foi irrelevante. Daqui uma hora poderia ser tudo diferente. São nomes, uns mais outros menos nomes. Para ele, que nunca quis ser Don Jon, e elas jamais foram consideradas como alguma Vicky, Cristina ou Maria Elena da vida. 

A quarta, foi a última. Ele com 50, ela 41. Encanto, deslumbramento, amplidão de sensações. Um tudo que acabou durando apenas três meses, até ele compreender a razão dos caminhos fugazmente cruzados. O menor tempo, para a maior e melhor emoção: identidade, inspiração, candura, desejo. Ela veio para que ele terminasse de se conhecer, discernindo quem era quem dentro dele, quanto à autoria de sua reles escrita, era só o que faltava. Transformou-se em "o livro de um apelido", hoje guardado numa estante tão imaginária quanto foi uma relação duplamente sentimental com ela, ou um 'feedback' latino-americano. Veio ainda a disparará-lo em direção a um infinito, pra nunca mais voltar. Sim, Renato estava certo: o infinito é a Deusa mais linda. Mas foi tanto silêncio, que ele descobriu que não havia nada para se ouvir, infelizmente uma desnecessidade. Mesmo assim, foi a subsunção do amor em forma de única, exagerada e bela literatura. Talvez somente ela, a que poderia ter sido a sua verdadeira Companhia. Só que não. Nem se tocaram. Adriana. 

Estas, as mulheres de sua vida. As quatro citadas em separado, pode-se dizer que foram as que se destacaram (das outras). Mas todas foram incomparáveis, diferentes entre si e principalmente dele. Diferentes em concepções sobre a vida, sobre a natureza e sobre o amor. A maioria passou pela mente, raríssimas pelo coração, e apenas uma bem no fim da história é que trouxe o sentido: ela era diálogo, música e poesia, quase tudo o que ele mais queria. Por isso, foi transcendental, mas só pra ele. E depois desta última, quem vier não terá nome. Não há mais espaço para guardar um nome. Quando alguém infinita o nosso tempo, fica assim. Agora, é e será somente a natureza. Portanto, não precisa vir mais ninguém. Nem precisa mais se escrever sobre quem quer que seja. A não ser que o destino tenha sacramentado sua vida relacional, tornando-o livre para um começo, um princípio. Alguém que ele possa chamar de Companhia. Pois a verdadeira Companhia não vem, por necessidade ou identidade por costumes, apenas obedece essa lei natural que chamamos 'viver'. Ela está em algum lugar do mundo. mesmo que ele não a conheça. ou nem venha a conhecê-la. 


- “Oi, tudo bem?” 
- “Muito prazer.” 
- “Qual o seu nome?” 
- “Alceu.” 
- “Alceu de que?” 
- “Alceu...aquele que só (se) fodeu....” 
- “Você é louco?” 
- “O suficiente para acreditar em UFOS e não acreditar no amor.” 
- “Como assim?” 
- “Porque os UFOS não precisam de nossa reciprocidade para existirem. O amor, precisa...” 





Nenhum comentário:

Postar um comentário