Sempre fui ouvidor. Jamais me neguei ao
aconselhamento. Mesmo sem saber por que procuravam a mim, e não (a)os terapeutas.
Mas desta vez, foi algo original.
Ele não me contou a história dele, parece que não
havia. Dele com ela. Coisas do mundo virtual, tendem a ser desfeitas pelo seu
caráter evanescente, geralmente é o vento que se encarrega disso.
O que havia, então? Disse ele que era algo
parecido com magia. Uma ligação unilateral, na qual ele tentou ao máximo
evitar, sabedor dos poréns. Nem sabe como começou. Quando viu, era quase tarde
da noite. Do dia, do vespertino, do tempo.
Trocaram poucas palavras. E o escambo se
transformou num vai e vem de imagens e frases, dela para ele e dele para ela,
pela ordem, e principalmente na contramão, no versa. Falou que não recebia suas
fotos como se elas estivessem sendo mandadas para ele, não era pretensioso o
sujeito. Quando apareciam, ele se juntava aos destinatários e a sua modesta
admiração.
Combinaram poesia como intuito da coisa. Literatura
amadora, inspirações e tais, era o que bastava para a troca. Ela compromissada, anunciava-se livre. Ele livre,
dizia-se descompromissado. Diferenças.
Mas a vida, tão simples que é, quando trata das
formas da beleza, traz o seu grau de complexidade. Nenhuma beleza verdadeira é
simples, é fácil, é passível de isenção, de autonomia, independência. Quando se
se entrega a ela, quando é reverenciada, mesmo que em contemplação, algo
sedimenta, em algum lugar. Polens, e a irresponsabilidade dos ventos.
Existe algo do lado de lá. Algo que veio parar
dentro dele. Não, não é amor. Também não é desejo. Mais se parece com emoção. Uma
sensação contida, que se lança na grande circulação do organismo no instante em
que ele se depara com as imagens dela.
Isso não está nos livros, nos consultórios nem nos
escritórios da vida, não é ciência. Tampouco empirismo, posto que não é
voluntário. Sabe-se lá o que é.
Derradeiro, ele me disse que na última imagem que
ela lhe enviou, algumas lágrimas vieram à tona. Imediatamente, ele as recolheu
com o movimento das pálpebras.
Pois ele não faz jus a qualquer nível de
sentimento. Fosse medo, não haveria lágrimas. fosse covarde, não haveria
frases.
Não fossem as diferenças, haveria poesia. Do mais
alto grau de profundidade e reconhecimento.
Não precisei aconselhá-lo. Ele mesmo compreendeu
que, mais do que fases, a vida é uma sucessão de limites.
E ele foi embora para casa, com a consciência de
que aquela mulher, dentre muitas a mais bela, tem natureza linear.
Navegar, seria preciso não fosse proibido.
Bastou-lhe a certeza da existência da Rozza, sem encontrá-la.
Bastou-lhe a certeza da existência da Rozza, sem encontrá-la.
E restou-lhe a areia, onde plantamos palavras que as
ondas-pálpebras levarão.
Por isso a mudança. Por isso o Pontal.
E o horizonte à vista. Dos olhos, ele aprendeu...
Linha do Horizonte - Azymuth