quinta-feira, 20 de julho de 2017

Contos Descaminhos



Eu faço o meu café. Na manhã gelada deste inverno cruento. Não tenho fome, tenho frio. Lembro-me dela. Distante, como uma onda em alto mar. Mas ainda aquém do horizonte. Não enxergamos bem, temos que nos valer de outras sensações para compensar a baixa acuidade visual. Sem ver, pode-se pensar. Pensar, que não se confunde com o sentimento. Este, é espontâneo; aquele, é provocado. O café quente deslizando pela garganta calada, provoca o pensamento na direção dela. Ou então, é o caloroso pensar nela que se mistura com o café na direção da minha essência. Dúvida que eu não preciso ter, pois nada muda. Nada muda uma relação calada, surda, morta de sensações abortadas. Depois de que o café aquece, ou que o pensamento conforta, ou chega o barco, vem o vazio. Um espaço imenso, estrada deserta. Quem construiu? Fui eu ou foi ela que fugiu? Há muros ou cercas neste espaço, como se fossem acostamentos ou paisagens? De que é feito o chão dele? Onde fica o quilômetro zero? Poderíamos ter partido ou aquilo era um caminho próprio apenas para libertar minha ilusão? Minha criatividade, é isso. A semente em mim não era de amor, era de libertação imaginativa. Então eu criei. Inventei admiração, devoção, fanatismo até. E todas aquelas sensações que eu tive, não passaram de suporte artificial para tanta coisa que veio naturalmente a partir da beleza singular daquela mulher. E que se perdeu. Perdeu-se no meio. No meio do caminho que não existiu. No espaço vazio. Sim, eu aprendi. Que depois dali não haveria mais lugar, parada ou estação final, destino. Tudo porque o amor não é um caminho. O amor, é uma estação do ano. Que se repete a cada nova estação, infinitamente. Quem se conhece no inverno, pode confundir o sentimento com o calor do café, da lareira, do solzinho. Há outros calores no inverno, como o do vinho. E nós não bebemos uma só taça... não brindamos nosso princípio... e o encanto se desfez. Hoje, restou na memória da história, por dentro de mim, apenas café. E a lembrança daquela rua por onde passamos somente de um lado. Do outro lado, havia pedrinhas de brilhantes. Não pude vê-las, porque eu estava do seu lado... e eu só olhava para você... 




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