O
deserto de quem é só, tem uma extensão indeterminada, partindo do sujeito, se
estendendo ao seu redor e terminando no infinito. Difere do deserto dos que não
vivem a solidão, pois estes, são repletos de oásis, sujeições, justificativas
e, sobretudo, conveniências.
Falar
sobre quem é só, torna-se especulação, boba e fútil. Apenas quem vive a
solidão, tem propriedade e domínio sobre o assunto. Por não possuírem relações intimamente afetivas, estabelecem elos com as coisas da natureza, feito
o mar, as matas e os céus, alguns animaizinhos de estimação. Sua relação com a terra, é sempre ectópica.
Quem
é só, reconhece amor nas coisas mais simples da vida, posto que encontrar “essa
tal reciprocidade” (Tim Maia estava bêbado e trocou a letra na hora de cantar)
é tão difícil quanto isolar as razões das emoções nos desencontros, para quem se lança
ingenuamente numa relação a dois sem o seu princípio de reserva legal, ou seja,
sem uma boa quantidade de amor próprio & outros valores que sempre nos
permitem, desde que presentes, recomeçar a solidão. Não são os solitários que
inventam o amor, são os inseguros comunitários do coração, que jamais se
admitem sós, estão sempre com alguém a tiracolo, mesmo que seja da 25 de março.
Sua
vida cotidiana tem a maioria dos sons propagando-se pelo seu pensamento, em
forma de diálogos imaginários que não necessitam de posse. Surdos-mudos o fazem
à sua semelhança. Têm a música, como único contraponto ao silêncio imperador.
Difícil
comparar solidões. Nem todas são iguais, não há um padrão absoluto, elas se
relativizam à medida do aprofundamento individual, isto é, do quanto de
conhecimento o solitário tem de si mesmo. Por sua vez, quanto mais ele se
conhece, mais se liberta de emoções comuns àqueles que precisam
obrigatoriamente de uma companhia, sem importar qualidade, identidade e outras
virtudes. No terreno onde pisa um, quem vem de fora ou escorrega, ou se afunda.
Por isso, todas – eu disse todas – as tentativas de pluralizar ou povoar uma solidão são
vãs, imorais, ilegais ou engordam.
Enfim,
discorrer competentemente sobre solidão, é apresentar o avesso do currículo social, no qual se
destaca (na contracapa) a incapacidade de convivência afetiva mútua,
ora por falta de correta interpretação do outro, ora sob inexistência daquela
tal reciprocidade, que o Tim trocou na ultima hora por 'felicidade'. Talvez sejam
sinônimos. Talvez não. Talvez, reciprocidade seja sinônimo de paz...
"A
solidão, é um oceano banhando o grão de areia que eu consigo dizer..."
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