MODERNA IDADE
Chegou o tempo em que todos à tua
volta têm razão. Porque eles explicam com soberba desenvoltura todas as coisas
de tua vida. Apontam teus erros como quem avista um cão abandonado na avenida.
Elencam as causas de tuas questões como quem faz uma lista para o supermercado.
Por fim, atribuem a ti, e não à existência da condição humana, as consequências
outrora semeadas para teu assim presente. O leitoso clímax da racionalidade
esparramando-se pelas salas, nas mesas e demais cômodos de uma casa que nem é
tua. Com facilidade, lançam no ar cheiros daquilo que não é preciso discutir, e
que ouves por complacência. Das premissas às suposições passando pelo especular
sideral, o senso comum perde compostura e vergonha, abre a braguilha e te mostra
a visão crua da realidade alheia como ele sempre vê de cima. Seriam apenas argumentos
engendrados? Ou nada mais do que inalienáveis conselhos? Consagradamente, a
oratória é o instrumento de controle mais antigo de persuasão, só perdendo para
a força braçal. Louvores a tudo isso, posto que é intersubjetividade. Mas lamentável, porque
jamais te convencerá, qualquer coisa que ignore a emoção, a tua emoção. Ela te
diferencia, segrega e isola, mas ao mesmo tempo te guia, sustenta e eleva, na
direção de tua paz. Não levarás ninguém contigo, além da tua verdade,
incompreensível para todo aquele que não te sente. Lutas também contra isso,
que não precisarás vencer, nem os doutos arautos do achar muito menos os
tardios eloquentes de cuspir, todos mestres da academia não reconhecida pelo
ministério da razoabilidade. De tão abusiva a ingerência, que as palavras já não
deixam de sucumbir à má qualidade do contar. Pois refletir, é algo mesmo emocionante...
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