segunda-feira, 25 de março de 2013

Seção Formato Mínimo



 HALLELUJAH 

Enfim, à zero hora de uma data qualquer, o nômade licórnio descobriu que a história de sua vida também era uma lenda. Atravessou seu tempo e espaço, inutilizando aos poucos a força de sua pureza. Concluiu seu desejo ser profano, evanescente, estelar. Porque aqui, nos campos da existência, nenhuma donzela o reconhecera, tendo sido ele ignorante dos seus regaços. Então, depois de reavistar sua natureza, tomou o caminho de sua originária constelação, para lá se eternizar. O universo fora para ele a terra, mas esta lhe significou, em realidade, não mais do que o ar. Elementos divergentes dominando os sentidos em função do poder dos mistérios, aprendeu que o mundo há de ser muito mais do que aqui. Finda sua trajetória pela certeza da ausência do único e verdadeiro sentir, é morta a vida em contemplação. Agora, é desfazer os rastros e retomar o céu, bem se conduzindo pelo soberano galope, destino que outrora havia lido nas entrelinhas de seu desvirginado coração.


Canção Agalopada – Zé Ramalho


quinta-feira, 14 de março de 2013

Contos sob a copa das Araucárias



 PURPURAH 


Foi repentinamente, que o mar se fez presente naquele improvável momento planaltino. Entrou pelos meus olhos para ir desaguar na foz de meus questionamentos. Estarrecido, perguntei a ninguém se no mundo real, pode tal cor ser compatível a uma existência humana. Não foi preciso me responder, que tal beleza, é dessas que inadvertidamente movem o mundo na direção do amanhã. Uma imagem que chega, permanece e conduz, a um lugar que se desconhece, tamanha a peculiaridade de sua natureza, da qual desponta um matiz de proporções certamente mitológicas. Após o choque, levantei-me e corri ao violão para traduzir a certeza de um sentimento que eu não viverei. As notas soaram a anunciação de um laico anjo, protetor dos navegantes dos mares mais azuis sob os céus mais anis. Ignorante, eu nunca imaginara que o sentido da vida possuía uma cor. Se eu soubesse, não a teria reconhecido. Nem teria visto a verdadeira natureza disfarçada de você. Tão pouco, ousado na tentativa fracassada em decifrar o impossível. Há coisas dimensionais na vida, as quais devemos apenas admirar, despir-nos de eventuais pretensões, e depois ir embora. Quem sabe um dia voltar, mas sempre em silêncio. Porque quando se vê algo determinantemente azul, mas sente-se o vermelho próprio da emoção, podemos chamar de púrpura. Todas as coisas como o mar, o céu e o seu olhar... 


quarta-feira, 13 de março de 2013

AUTORALLIA << Feira Contemporânea / por Cecília Faroll



FEIRA CONTEMPORÂNEA 
Às terças, ela vai à feira noturna, momento em que reconto os frutos que eu não colhi. Alimentos, cada qual com a sua preferência. Pois a vida, é um mero e permanente exercício de escolhas a fim de saciarmos nossas necessidades de toda natureza. Mas oferta e procura induzem ao erro, porque fazem das relações humanas algo informal. As coisas do coração não são assim. Mas eu não sei como seriam as coisas do coração, se a história fosse outra. Nelas não cabem hipóteses, por não terem lugar próprio, nem tempo definido. Resta saber se há diferença entre viver e amar, ou se coexistem numa coisa só. Nunca saberei, posto que sou mental. Meus pensamentos guiam-me durante a noite, mas para longe das feiras, ignorando frutos sob a leva da bastarda retórica que me faz novamente idiotizar as coisas do meu coração. Sem a chance, órfão de escolhas, sigo pelos dias, louvando minha inapetência afetiva. Vou rotineiramente até o mercado vespertino, em razão da minha sede da qual também desconheço a causa. Que venha logo o fim de semana, chegando mais uma semana ao seu fim, para que eu possa enfim descobrir que todos os dias são iguais, só porque todas as feiras também parecem ser. Tal qual pensa outro idiota, ou seja, todos aqueles que não têm a capacidade de reconhecer frutos matinais.. 


quinta-feira, 7 de março de 2013

Asas & Ícaros - Jason Mraz


 "93 MILLION MILES" 
 Jason Mraz 



93 Milhões de Milhas 

À 93 milhões de milhas do Sol 
Pessoas se preparam, se preparam 
Porque lá vem, é uma luz 
Uma bela luz, além do horizonte 
Em direção aos nossos olhos 
Oh, minha nossa, que bonito 
Oh minha linda mãe 
Ela me disse, filho, na vida você vai longe 
Se você fizer direito, você vai adorar onde você está 
Apenas saiba, onde quer que você vá 
Você sempre poderá voltar para casa 
À 240 mil milhas da lua 
Percorremos um longo caminho para pertencer a este lugar 
Para compartilhar essa visão da noite 
Uma noite gloriosa 
Sobre o horizonte está outro céu brilhante 
Oh minha nossa, que bonito, oh meu pai irrefutável 
Ele me disse, filho, às vezes, pode parecer escuro 
Mas a ausência de luz é uma parte necessária 
Apenas saiba, que você nunca está sozinho, você sempre poderá voltar pra casa 
Pra casa, casa 
Você sempre pode voltar 
Cada estrada é uma ladeira escorregadia 
Mas há sempre uma mão em que você pode segurar 
Olhando mais profundamente através do telescópio 
Você pode ver que sua casa está dentro de você 
Apenas saiba, que onde quer que você vá, não, 
você nunca estará sozinho, você sempre vai voltar para casa 
Casa, casa 
À 93 milhões de milhas do sol 
Pessoas se preparam, se preparam 
Porque lá vem, é uma luz 
Uma bela luz, além do horizonte 
Em direção aos nossos olhos 


ORIGINÁLLIA << James Blunt / Same Mistake


Esta bela canção de James Blunt conta a estória de alguém e suas reflexões madrugais, pensando em compreensão, não simplesmente opção. Quem sabe um dia um reencontro, enfim uma conversa, entendendo que aquele jeito, a conduta, ou o comportamento, acabaram incorrendo em erro, mas não se sabe bem ou por quê isto ocorreu. Sobrecarregado o coração, encontra-se alívio na voz, ou seja, pela música. Mas para se saber bem, seria preciso ir às estrelas... 


 "Same Mistake" 
 James Blunt 



quarta-feira, 6 de março de 2013

Evento S.A.R. / Crônicas da Vida Sem Edição - “Miseráveis.com”

"Miseráveis.com"


A indigência não é opção. É conseqüência de quem não teve escolha, leia-se oportunidades, chances ou coisas do gênero. A saída foi a única saída, em direção às margens do que nunca seriam. Mas o pior é que não se vai embora, resta-se a perambular pelas valetas da sobrevida sem sobrenome, sem documentos mas muitos lenços. Peregrinos sem cajado, menestréis sem violão, ou andarilhos sem sapatos: nada além, apenas indigentes. Mas bastante aquém das calçadas, do álcool e da miséria humana. Mas...de onde provém esta miséria? Qual a outra ponta dos cordões umbilicais cotidianamente rompidos, que outrora geraram a miserabilidade então nascida sobre os granitos gélidos onde pisamos sem dó? 

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Sim, há genitores, cuja linhagem não é genética. Nós somos, todos, também produtos de um meio, seja ambiente, social ou de cultura bacteriana. E é justamente este meio que determina as condições para que se defina quem será, é ou foi indigente. Sub-produtos humanos, resultado da inércia dos homens públicos, os quais preocupados estão com seus três carros, suas composições partidárias e as próximas legislaturas, apenas e unicamente. Não há, sob hipótese alguma, a concepção do que seja alteridade, jamais imaginada fora do período eleitoral. A democracia tem sua representatividade ressuscitada do primeiro dia da disputa eleitoral até a assunção do cargo. Após, falece em comoriência com programas e plataforma de campanha, dos quais nem vimos a cor. E não existe assunção de culpabilidade – homens públicos não são homens – a regra é delegar responsabilidades às gestões anteriores. No máximo, políticas assistencialistas voltadas para as conseqüências, mascarando as eternas causas, como que podando a árvore podre. O não reconhecimento dos desiguais, inobstante sejam a maioria, deturpa prioridades e consolida o que se chama de vontade política, mas uma vontade maniqueísta no sentido de manter o status quo dos mesmos e por muito tempo, inamovíveis na pirâmide social. Fazem, os homens públicos, uma clivagem social como se os miseráveis (segundo eles) estejam distantes de nós, atribuindo que a realidade alheia advém de suas condutas ou comportamentos dolosos. 

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Sim, eles (homens públicos) são co-autores da miséria, mas uma miséria que é inoculada na sociedade. Aí então, quando eu vejo um indigente na calçada, fotografo e me pergunto o que farei. Jogar a imagem numa rede social qualquer de nada adianta. Porque os homens públicos estão às margens das redes sociais. O quê? “Às margens”? Eureca! Os verdadeiros marginais são eles, os homens públicos! Os indigentes estão ainda inseridos em nosso meio social, tanto que nos encontramos com eles diariamente. Alguém encontra freqüentemente os homens públicos? Claro que não, porque eles estão à margem, por serem eles os marginais! Percebe-se claramente que a mudança do ponto de vista traz outra perspectiva, às vezes (como neste caso) totalmente diferente do costume. Isto mesmo, temos a mania de achar que nós elegemos pessoas suficientes capacitadas para cumprirem seus mandatos. Vamos nos deslocar da nossa poltrona de recebimento passivo de informações para qualquer outro ponto de nosso raciocínio, criando novas angulares, novas possibilidades, ou novas perspectivas. Isto é um procedimento fundamental, o qual pode ser empregado em qualquer setor na vida de relação. Caminhar, para observar melhor e concluir como se deve. Nós, porque nossos indigentes só perambulam. Mortos-vivos, cujos direitos se foram há tempos. 

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Sim, estes necessitam de reinserção social. Mas o poder público prefere que eles faleçam de morte natural: naturalmente provocada pela omissão dos próprios governantes. Porque sobram recursos para o marketing, que não é institucional, e sim pessoal, de olho nas próximas eleições. Onde os votos dos indigentes não se farão necessários, posto que já estão manipulados pelo destino. Enquanto isto, os ideologicamente marginais agradecem, pois nada os atinge. Do topo da pirâmide, saúdam a natureza pacífica e conservadora dos brasileiros, que só saem às ruas em prol da legalização de entorpecentes, para relaxar durante as entressafras de sufrágios. Povo sem mobilização, despolitizado, vota às escuras, sem argumentos, prostituindo sua representatividade aos cafetões do erário público. 

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Lá se vão 24 anos da Constituição Cidadã, e os nossos índices de desenvolvimento humano são precários. O paradigma da corrupção é ostensivo: impunidade sempre, criminalidade também. Partícipes viajam subitamente para os EUA. Autores se escondem atrás de prerrogativas parlamentares. A mídia, não acusa quem a ela convém. Eu, não sei o que fazer, além de bater fotos e ser reminiscente. O problema é fundamentalmente de cunho educacional. Porque os eleitos não têm formação humana para o trabalho. O inverno se aproxima, um sem número de vítimas não resistirá. Um sem números de nós resistirá e permanecerá indiferente. Os homens públicos ignoram o que deveria ser notícia. Porque eles não andam nas ruas. Não pisam nas calçadas. Sequer fotografam a realidade. De tão distantes da população, os homens públicos tornaram-se, em hodierna concepção, os verdadeiros marginais. Enquanto estes que se penduram em seus cargos não sabem o que fazer, aqueles que carregam o estereótipo não sabem para onde ir… 

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 [É preciso mudar a natureza do discurso, se se quiser deixar de ser pobre. Eu, quis.] 

 “JORNAIS” 
 NENHUM DE NÓS 





sábado, 2 de março de 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

Evento S.A.R. / Átrios - Fé


 

Há determinados dias em nossas vidas 
Em que a gente sente a chegada de algo peculiar 
Uma presença que não sabemos bem o que é 
Então alguns atribuem isto à religião 
Miram para o alto e apontam um Deus qualquer... 
Eu, penso ao contrário 
Vejo isso olhando para dentro de mim 
E empresto uma música que me leva até lá, ou aqui 
Sem crença, dogma ou opção 
Deixo-me levar pelos braços do som 
Em busca da certeza 
De que a próxima lágrima, em curto prazo 
Revelará um tempo de felicidade 
Enfim, a verdadeira anunciação 
O sentido, 
Que justifica o passado 
Explica o presente 
E aproxima o amanhã... 



 "Dolcissima Maria

versão Renato Russo 


   versão PFM