- Digressões Polaquianas -
Como definir essa
palavrinha tão pequena mas tão ordinária, para depois raciocinar sobre a sua
amplitude, tamanho, distâncias e tantos outros lances dimensionais. Não, ela
não pode ser definida. Só os inconsequentes como eu tentam fazê-lo, sempre em vão,
conseguindo no máximo conceituá-la. Defini-la seria limitar, especificar,
conter, dar-lhe sentido estrito, alcance mínimo. A inconsequência se encontra na tola
subsunção humanoide de um sentimento, como se fazer isso fosse preparar fatias
generosas de abacaxi com canela da Índia. É, pode-se atribuir algumas extensões
ao substantivo mais querido. Mas calma lá: antes de tudo, a questão da competência. Quem é que pode falar disso? Será que apenas os que estão amando? Ou
os teóricos da ciência para-sentimental também estão qualificados? Basta seus diplomas,
certificados e aceitação popular? E quando eles falam, falam do amor deles ou
do amor dos outros? Quem é capaz de compreender o sentimento alheio? Tenho de expulsar perguntas dentro do espaço das respostas,
mesmo que eu não as encontre. Então adeus, interrogações metropolitanas, vocês
não trouxeram vale-transporte. Entro no tubo. Sinto-me um grão dentro de uma
cápsula via oral, a ser deglutida na próxima parada. Então...é isso mesmo: a
próxima parada é uma questão de tempo. Portanto não se pode falar hoje sobre o
amor do amanhã. Falar do amor, seria uma questão kriptonítica, no sentido de parar
rotação e consequente translação do mundo e seus planetinhas de condomínio. Um amor que é hoje assim, amanhã mesmo
pode estar torrado. Pulou o assado. Outro amor, que ontem era daquele jeito, hoje
pode estar bem melhor. Saltou longe do amanhã. Pensar se o amor está ou é. Se a ele conferimos
tempo ou espaço. Quais as grandezas que acompanham a sua rota. Penso que a da
companhia. A da ouvidoria. Do conselho. Do estoque. Mas isso são cousas empresariais...gestacionais...lembrando
gestação, útero, gravidez...lembrando gravidade...isso: amor é desafiar a lei da
gravidade. Um desafio involuntário, que solta, eleva, sublima na direção do outro.
Um outro que não pode estar por terra, há de ser suspenso no mesmo ar que a sustenta.
Dois corações flutuando ao sabor da brisa, dos ventos, das tempestades, e sempre
pairando ali. Ali onde o colibri, o beija-flor e a passarada toda costuma piar:
na alma da natureza. Então o amor é um estado de perfeita sintonia entre o ser e a natureza. Talvez
aí mesmo estivesse colocada a caixa do amor...mesmo que ele lá não caiba...pois é uma caixa
sem tamanho...mas é onde cabem apenas dois dentro...uma caixa, simbólica caixa...que
nunca pode se fechar para a vida. Mas coitados dos amantes que ainda não aprenderam abri-la com a inteligente condutância de um hábil guia...
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