O BRINDE À CHUVA
Ele resolveu ir além dos temporais. Deixou para trás tudo que não lhe
acrescentava. Foram-se o passageiro coleguismo, os amigos tortos, o gélido parentesco,
as mulheres hesitantes e os amores vãos. Tantas pessoas no mundo, que se fazia
mais do que opção, verdadeiramente urgia desapegar-se de toda essa leva
de incautos que apenas enumerava as vicinais de sua já memória. Aliviado, finalmente
ingressou no caminho sem volta: seu destino. Reparou que deixara junto àquilo
tudo, outras coisas que lhe traziam estagnação. Por isso, sentia-se duplamente
leve. A sensação de ter purificado toda uma vida, já estava quase lhe
justificando a existência. Mas não, ele deveria ir ainda um pouco mais. Provar
dos novos frutos dos novos campos ao redor da nova estrada, sob o novo clima das
novas possibilidades, por que não novas pessoas. O mesmo paladar, desta
experimentou outros sabores que só a vida além da sobrevida dentro da mesma
história poderia lhe proporcionar: o gosto da solidão. Oh, doce sentido que lhe
faz humano, então apresenta seu alimento que vem finalmente justo, quando deixou a mesa mal
acompanhada que iludia sua noção de convivência na mesma espécie. Um brado ao seu ser humano que
lhe trouxe para fora da casa engraçada de sonhar, por ter lhe ensinado que o
amor, é muito mais do que aquilo que alguém possa sentir. O amor não era nada
do que foi, não é nada do que seja, e não será nada do que virá. Ele é,
simplesmente, o breu da ausência. Isto, a luz mais forte e capaz
de elucidar-nos o propósito da vida. Depois do brado o brinde, ao tão esperado
encontro consigo mesmo. “Viva”, mas sem necessidade alguma de tilintar no cálido momento. Também dispensou as exclamações, pois jamais tentou ser superior à
nossa própria natureza, tão lívida como uma nova chuva de outono...
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