terça-feira, 16 de abril de 2013

Contos sob a copa das Araucárias


 O BRINDE À CHUVA 




Ele resolveu ir além dos temporais. Deixou para trás tudo que não lhe acrescentava. Foram-se o passageiro coleguismo, os amigos tortos, o gélido parentesco, as mulheres hesitantes e os amores vãos. Tantas pessoas no mundo, que se fazia mais do que opção, verdadeiramente urgia desapegar-se de toda essa leva de incautos que apenas enumerava as vicinais de sua já memória. Aliviado, finalmente ingressou no caminho sem volta: seu destino. Reparou que deixara junto àquilo tudo, outras coisas que lhe traziam estagnação. Por isso, sentia-se duplamente leve. A sensação de ter purificado toda uma vida, já estava quase lhe justificando a existência. Mas não, ele deveria ir ainda um pouco mais. Provar dos novos frutos dos novos campos ao redor da nova estrada, sob o novo clima das novas possibilidades, por que não novas pessoas. O mesmo paladar, desta experimentou outros sabores que só a vida além da sobrevida dentro da mesma história poderia lhe proporcionar: o gosto da solidão. Oh, doce sentido que lhe faz humano, então apresenta seu alimento que vem finalmente justo, quando deixou a mesa mal acompanhada que iludia sua noção de convivência na mesma espécie. Um brado ao seu ser humano que lhe trouxe para fora da casa engraçada de sonhar, por ter lhe ensinado que o amor, é muito mais do que aquilo que alguém possa sentir. O amor não era nada do que foi, não é nada do que seja, e não será nada do que virá. Ele é, simplesmente, o breu da ausência. Isto, a luz mais forte e capaz de elucidar-nos o propósito da vida. Depois do brado o brinde, ao tão esperado encontro consigo mesmo. “Viva”, mas sem necessidade alguma de tilintar no cálido momento. Também dispensou as exclamações, pois jamais tentou ser superior à nossa própria natureza, tão lívida como uma nova chuva de outono... 


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