SINFONIA da CIDADE MUDA
Lugar de todos, terra para
ninguém. Onde tudo acontece, nada sobrevém. Mas a sobrevivência ainda passeia
de mãos dadas com a esperança no parque das águas impróprias, condição para a
teimosa permanência, inócua de mudanças. Sobre o asfalto, o deslocamento linfático
das pessoas subordinadas ao tempo. Alguns pontos verdes mascaram o costumeiro cinza
estrutural das linhas aleatórias e sobretudo contrastam com o pálido d’almas
cálidas. Um aglomerado sem fim de cimento, madeira, vidro e tantos outros
materiais elaborados cientificamente, não para o conforto e sim pelo modelo tipicamente
urbanista de simplesmente estar onde se deveria ser. Em meio a isso tudo, aquilo que se
chama de gente. Cada um na luta pelo seu lócus, em busca de seu status, para
alcançar uma imagem melhor em seu habitat. A tradição latina de ficar ali, como se o
universo das coisas fosse realmente longínquo. Conservadora gente, que não se
propõe a sonhar, nem mesmo por um espaço dignamente apropriado. Vadios alquimistas da
natureza, cuja poção é mantida aquecida em cadinhos de fraca louça pelas vozes
do discurso arcaico e limitante da moradia ideal e materializada no fictício paraíso local. O brio enfeita de
orgulhos tolos a naturalidade, segregando de fora para dentro a imaginação
popular, com devida exceção aos que têm ciência de que a porção mais externa da
região metropolitana é o portal para a emancipação, o figurado desafio para
todo aquele que tem sede de viver uma verdade dimensionalmente melhor..
- complemento -
"Jardim das Acácias"
Zé Ramalho
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