terça-feira, 30 de abril de 2013

Contos sob a copa das Araucárias


 EU, PEREGRINO 



Penso frequentemente, no dia em que eu darei o primeiro passo dentro de meu novo caminho. Então me vêm à mente, as coisas que hão de existir para que eu possa me considerar neste caminho novo. Eu precisaria ser soberanamente eu, ou seja, respeitar os meus valores, mantendo o suporte deles. Trazer na bagagem todos os meus sonhos e desejos, já tendo me colocado ao seu encalço realizador. Conduzir na memória viva os entes queridos, desde os que já se foram em qualquer sentido, e os que hoje estão, apenas lembrando dos bons momentos. Fazer por onde aconteçam minhas perspectivas, pela busca incessante de dias melhores, tomados de trabalho, saúde, dialética e paz. Mas aí eu começo a concluir que eu já dei esse primeiro passo, há tempos. Porque tudo isso que eu imaginava no porvir, preenche meu coração nos dias desse presente. Já é hora de reconhecer que minha peregrinação dentro de mim mesmo, iniciou-se naquele já passado tempo, e que respiro os novos amanheceres como se deve. Porque todo dia é manhã de alvorada, até mesmo para quem ignore isto. Levo comigo no peito, tudo aquilo que me fortalece, o meu aprendizado. O que não deu certo, ficou respeitosamente para trás. Necessito apenas de água, também porque os dias se sucedem. Enfim, o norte se anuncia no coração do meu rumo. Porque hoje eu sei, que não estou mais lá.. 


AUTORALLIA + COMPLEMENTO << Sinfonia da cidade muda / por Neruda Paulífero




SINFONIA da CIDADE MUDA 
Lugar de todos, terra para ninguém. Onde tudo acontece, nada sobrevém. Mas a sobrevivência ainda passeia de mãos dadas com a esperança no parque das águas impróprias, condição para a teimosa permanência, inócua de mudanças. Sobre o asfalto, o deslocamento linfático das pessoas subordinadas ao tempo. Alguns pontos verdes mascaram o costumeiro cinza estrutural das linhas aleatórias e sobretudo contrastam com o pálido d’almas cálidas. Um aglomerado sem fim de cimento, madeira, vidro e tantos outros materiais elaborados cientificamente, não para o conforto e sim pelo modelo tipicamente urbanista de simplesmente estar onde se deveria ser. Em meio a isso tudo, aquilo que se chama de gente. Cada um na luta pelo seu lócus, em busca de seu status, para alcançar uma imagem melhor em seu habitat. A tradição latina de ficar ali, como se o universo das coisas fosse realmente longínquo. Conservadora gente, que não se propõe a sonhar, nem mesmo por um espaço dignamente apropriado. Vadios alquimistas da natureza, cuja poção é mantida aquecida em cadinhos de fraca louça pelas vozes do discurso arcaico e limitante da moradia ideal e materializada no fictício paraíso local. O brio enfeita de orgulhos tolos a naturalidade, segregando de fora para dentro a imaginação popular, com devida exceção aos que têm ciência de que a porção mais externa da região metropolitana é o portal para a emancipação, o figurado desafio para todo aquele que tem sede de viver uma verdade dimensionalmente melhor.. 


 - complemento - 
 "Jardim das Acácias" 
 Zé Ramalho 



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Seção Formato Mínimo




 RENASCENTE 


Um momento, capaz de provocar o tempo. Mas fez surgir determinada questão, no centro daquele permanente vácuo desconhecido. Sem oxigênio, o espaço inerte transformou-se em lembrança presente, a qual não se rende ao pretérito que nunca aconteceu. Um olhar, que riscou a trajetória de um coração acostumado com a frieza dos sorrisos convenientemente fúteis. De tal forma, mesmo lhe causando estranheza, que decidiu levar consigo aquela imagem, sobre o que não se permitiu pensar. Talvez fosse o destino lhe enganando novamente, trazendo o impossível ao lado de sua casa de sentir. Entretanto, era um sonho bom, por despertar a memória quando principalmente nos intervalos do caminho. A imaginação sem compromisso, desejos ou possibilidades, é a mais pura forma de carinho. Porque assim, ela se faz incondicional, portanto livre, até mesmo da loucura, que seria a não eventualidade do querer. Então o louvor, por aquele instante atemporal, marcando o desenho do que não foi, com as cores que jamais virão iguais. Renascida, hei de superar o desafio das suas coincidências. Porque seu zênite em minha estrada, naquela curva impediu-me de retribuir a importância de olhar para frente, quando eu deveria ter parado, para ao menos saber-lhe um pouco mais.


 "Relicário" 
 Cássia Eller & Nando Reis - dele mesmo 




quinta-feira, 18 de abril de 2013

Quadrophenia - "Knockin' On Heavens Door"


 [O céu, é uma convenção secularmente ideologizada 
 por aqueles que comercializam asas em solo pobre.] 


 "Knockin' On Heavens Door" 
 BOB DYLAN 


 Vika Goes Wild 
 (nirvana238)  

 "Batendo na Porta do Céu" 
 - versão Zé Ramalho 



 O AUTOR  -  BOB DYLAN 



BICHOS emocionais DO PARANÁ racional - 'INIMAGINÁVEL"


Outra pérola da música paranaense, esta espetacular canção da dupla Troy & Luiz Felipe, é um dos mais perfeitos exemplos do propósito deste blog, ou seja, demonstrar as nuances da união entre Poesia & Música. Momento sublime, é a porção estável da mesma, apogeu das percepções extra-sensoriais que nos convidam a viajar, propondo reflexão na volta. Já deitado em emoção, um segundo salve (e serão tantos quanto forem necessários) para a arte de Troy Rossilho & Luiz Felipe Leprevost: "INIMAGINÁVEL"..
e boa viagem...



terça-feira, 16 de abril de 2013

Contos sob a copa das Araucárias


 O BRINDE À CHUVA 




Ele resolveu ir além dos temporais. Deixou para trás tudo que não lhe acrescentava. Foram-se o passageiro coleguismo, os amigos tortos, o gélido parentesco, as mulheres hesitantes e os amores vãos. Tantas pessoas no mundo, que se fazia mais do que opção, verdadeiramente urgia desapegar-se de toda essa leva de incautos que apenas enumerava as vicinais de sua já memória. Aliviado, finalmente ingressou no caminho sem volta: seu destino. Reparou que deixara junto àquilo tudo, outras coisas que lhe traziam estagnação. Por isso, sentia-se duplamente leve. A sensação de ter purificado toda uma vida, já estava quase lhe justificando a existência. Mas não, ele deveria ir ainda um pouco mais. Provar dos novos frutos dos novos campos ao redor da nova estrada, sob o novo clima das novas possibilidades, por que não novas pessoas. O mesmo paladar, desta experimentou outros sabores que só a vida além da sobrevida dentro da mesma história poderia lhe proporcionar: o gosto da solidão. Oh, doce sentido que lhe faz humano, então apresenta seu alimento que vem finalmente justo, quando deixou a mesa mal acompanhada que iludia sua noção de convivência na mesma espécie. Um brado ao seu ser humano que lhe trouxe para fora da casa engraçada de sonhar, por ter lhe ensinado que o amor, é muito mais do que aquilo que alguém possa sentir. O amor não era nada do que foi, não é nada do que seja, e não será nada do que virá. Ele é, simplesmente, o breu da ausência. Isto, a luz mais forte e capaz de elucidar-nos o propósito da vida. Depois do brado o brinde, ao tão esperado encontro consigo mesmo. “Viva”, mas sem necessidade alguma de tilintar no cálido momento. Também dispensou as exclamações, pois jamais tentou ser superior à nossa própria natureza, tão lívida como uma nova chuva de outono... 


sábado, 13 de abril de 2013

INSTRU#MENTALIS > Sungha Jung




  SUNGHA  JUNG   -  "GRAVITY"  (original)  



hERMENÊUTICA <> tHE sWELL sEASON / lOW rISING


SINOPSE

Esta gostosa música de Glen Hansard fala sobre a permanente necessidade de diálogo nos relacionamentos humanos, a romper obstáculos artificiais que por vezes criamos. Faz uma analogia do ser com a imensidão transformadora do mar e suas possibilidades, a serem desvendadas, ou erguidas lentamente das profundezas, onde pode permanecer um amor. Não importa para onde, mas que as palavras não restem submersas, e sim que sejam levadas pelos barcos... 


 "lOW rISING" 
 tHE sWELL sEASON 



 Priscianos 

Morrem pela boca os peixes e os homens. Os peixes, na tentativa de alimentação. Os homens, no intento de falar. Porque os peixes têm fome. Porque os homens querem se fazer ouvir. Peixes obesos não existem. Homens falantes não resistem. Aqueles, sucumbem até às iscas artificiais. Estes, à manifestação da própria verdade. Peixes e homens morreram pela boca. Peixes, por ignorarem as armadilhas. Homens, por buscarem o debate. Os peixes e os homens sempre morrerão pela boca. Peixes, por serem eternos navegantes. Homens, por serem eloquentes ao infinito. 


sexta-feira, 12 de abril de 2013

KAMASUTRA


 "HOME AGAIN" 
 MICHAEL KIWANUKA 




 Lar, doce casa 

Uma casa. E a possível diferença do que venha a ser um lar. Um ou outro, seria de onde um dia se sai, para noutro questionar-se em todos os sentidos, sob quais condições e por quanto tempo um eventual retorno, mesmo que na forma de visita. Mas muitas vezes, é para onde se vai, porque antes não havia. Sendo assim, não se considera volta. Importa ser a casa, um lugar onde se construa permanentemente a paz. Não necessariamente no passado, nem para o futuro. Mas apenas no presente, uma vida num canto para si mesmo, seja onde for. Mas quando é reconhecidamente assim, torna-se um verdadeiro lar, porque nele abrigamos o habitante coração, o mestre de nossas obras.