O CEMITÉRIO DAS COISAS
O sol escarlate realça o
verde-escuro dos cedros modificados que ornam a rua principal, eixo que separa
em duas metades iguais aquilo que não tem mais cor e já está bem longe dali.
Nas transversais, o piso irregular de paralelepípedos tortos faz olhar para
baixo desperdiçando a beleza ímpar dos túmulos, erguidos para simbolizar
respeitosamente a outrora existência. Mármores, granitos, outras pedras raras e
também das mais simples, cobrem com véu material organismos em decomposição,
que um dia desfilaram pelo mundo em função de suas essências de outra natureza.
A última morada, é a primeira que temos pela frente. Tal certeza, não deve
vicejar o esmorecimento como quando na chegada de qualquer doença, infortúnio
ou tristeza. Pelo contrário, nestes momentos é que devemos reforçar a
importância do que temos em vida, pois a pior morte é daquilo que ainda
continua vivo. As cores desta manhã, são o indício de que sempre há chance, até
mesmo quando estamos bem próximos de qualquer espécie de fim. Por isto, o
respeito, a educação e um pouco de alegria. Assim, podemos percorrer caminhos oblíquos,
que nos afastam de nossa oscilante alma black-tie. Porque a palavra, é o traje
que vestimos na tentativa de entrar no evento público chamado felicidade. Felizmente,
há os que combinam. Apócrifos, não há espaço para os outros venerarem suas
mortes: há, tão somente, o próprio tempo, com sua indelével infinitude...
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