quinta-feira, 1 de novembro de 2012

AUTORALLIA << O Cemitério das Coisas / por Ferdinand Who





O CEMITÉRIO DAS COISAS
O sol escarlate realça o verde-escuro dos cedros modificados que ornam a rua principal, eixo que separa em duas metades iguais aquilo que não tem mais cor e já está bem longe dali. Nas transversais, o piso irregular de paralelepípedos tortos faz olhar para baixo desperdiçando a beleza ímpar dos túmulos, erguidos para simbolizar respeitosamente a outrora existência. Mármores, granitos, outras pedras raras e também das mais simples, cobrem com véu material organismos em decomposição, que um dia desfilaram pelo mundo em função de suas essências de outra natureza. A última morada, é a primeira que temos pela frente. Tal certeza, não deve vicejar o esmorecimento como quando na chegada de qualquer doença, infortúnio ou tristeza. Pelo contrário, nestes momentos é que devemos reforçar a importância do que temos em vida, pois a pior morte é daquilo que ainda continua vivo. As cores desta manhã, são o indício de que sempre há chance, até mesmo quando estamos bem próximos de qualquer espécie de fim. Por isto, o respeito, a educação e um pouco de alegria. Assim, podemos percorrer caminhos oblíquos, que nos afastam de nossa oscilante alma black-tie. Porque a palavra, é o traje que vestimos na tentativa de entrar no evento público chamado felicidade. Felizmente, há os que combinam. Apócrifos, não há espaço para os outros venerarem suas mortes: há, tão somente, o próprio tempo, com sua indelével infinitude...


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