quinta-feira, 29 de novembro de 2012

KAMASUTRA

 "PALAVRAS AO VENTO" 
 CÁSSIA ELLER 
 Cover by Marie Martins 



 Frases no Espaço 

Seu estilo de vida é calibri e itálico, 
 Sob a força das palavras que não vem do negrito 
 E sim do viés emancipatório, 
 Pressuposto único de sua junção 
 Sem o exercício das frases, 
 Ocorreria de adoecer a mente, sufocar a alma, 
 Aquietando um espírito nômade por natureza, 
 Ávido por dias melhores 
 Escreve, porque o instante existe 
 E o amanhã é também uma junção 
 Junção não mais de palavras, posto que há o vento, 
 Mas sim de instantes, 
 Ou seja, 
 O libertário tempo... 


terça-feira, 27 de novembro de 2012

AUTORALLIA << De coração / por Bertold Brown


DE CORAÇÃO
Pratos de louça branca bem acomodados nas prateleiras do armário. Cristais transparentes ornam com destaque reluzente nos espelhos do móvel de beber. O sofá duplo impecavelmente arrumado em frente ao televisor de última geração, sobre um sistema de som de alta tecnologia. Duas cadeiras de estilo avançado completavam a confortável e sugerida hospitalidade. Ao lado, uma mesinha de canto e o belo abajur de um designer qualquer. No centro da sala, o lustre portentoso e classicamente moderno, a obedecer com precisão ao mais sensível sinal do interruptor. Na grande estante, algumas fotos do passado recente. Um enorme tapete oriental de uma só cor esparramava-se pelo ambiente suportando uma mesa de centro baixa. E a parede de grafiato dava o toque final ao aconchego. Enfim, um ambiente receptivo de muito bom gosto. Mas havia uma questão: as cortinas permaneciam fechadas. Então, não entrava luz natural, prevalecendo a resistência das lâmpadas supletivas ao calor humano. De que vale tal conforto, se não existe o que haveria por dentro. Do espaço vazio se fez hábito e foi assim que as cortinas não mais precisaram ser abertas. O sol não veio. Sem necessidade, porque o amor se foi há tempos. Numa cidade povoada de vácuos afetivos, ausente de emancipações espirituais. Tantos e tantos lares que voltam a ser simples imóveis, e as pessoas hoje ainda habitam como se fosse ontem. Porque, muito além das cortinas, desconhece-se que estão as janelas. Além disso, ignora-se que do outro lado do portão, pode estar a vida...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

BICHOS emocionais do PARANÁ racional - "ÓTIMA"


É a perfeição das coisas que move os seres errantes na direção dos dias, pela brisa das tardes e no embalo das noites. Este casamento entre a música de Rossilho & a poesia de Leprevost, faz crer que a humanidade tem uma essência. Ela raramente se manifesta, mas quando vem, é por ser princípio, a justificar nossa existência. Quisera eu poder comentar essa obra, mas ela é simplesmente indescritível: é ouvir, sentir e regozijar. Com orgulho, de joelhos, reverencio a arte de Troy e Luis Felipe: “ÓTIMA”..
e boa viagem...





Seção ELEVATION


 PUSHKAR  -  "BEGINNING" 




AUTORALLIA << Elegia 1971 / por Brasil d'Algarve




ELEGIA 1971
Mais outro sopro de vida. E assim nos lançamos vestidos de carne ao submundo das existências trôpegas por um lugar ao sol, em nome de algo que batizamos sem fé alguma por ‘alma’. Ganhamos alguns sentidos, feito subsídio, para que possamos prosperar na centelha da humanidade, mas não nos permitimos desenvolvê-los. Padecemos à margem dos nossos próprios caminhos, com os pés perfurados por ganchos morais fincados no pântano de nossas esperanças úmidas chamadas ‘sonhos’. Somos ao mesmo tempo vítima e algoz, sem que ninguém do lado de fora dos nossos corpos seja responsável por nosso fracasso. Deixamos para a semana que vem o que nunca se realizará, velando os desejos natimortos na apropriada capela de nossas próprias vontades, assim como os índios repousam seus falecidos às intempéries da justificante estupidez climática dos dias e das noites. Analfabetos temporais, ignoramos a força dos anos recaindo sobre nosso espaço inquilino, pois ele é da terra que possui natureza distinta. Fazemos dos costumes, hábitos suicidas que matam aos poucos toda e qualquer forma de sentimento que eventualmente consiga nascer em meio ao caos social instaurado pela ausência de virtude. Seguimos sem inveja, mas com determinada dó das pessoas prontas que nada tem mais a aguardar senão servir o próximo cálice de sucesso, através da anunciação bastarda de alteridade, em nome do seu venerado ‘eu’. Dó que não sentimos de nós mesmos, pois carregamos a vã certeza de que o mundo não é só aqui. Pena que isso não é suficiente para tirarmos a fantasia interior que só nós apreciamos, porque apenas nós é que assistimos ao desfile de nossa morosidade conservadora de atitudes, da lentidão de movimento de nosso espírito, e do nosso covarde consolo de percepções, conjunto este que apelidamos de ‘amor’. Foi naquela virada de ano que eu vi o sinal. Às zero hora do primeiro dia de janeiro. Marco zero da minha infelicidade, que eu não combati como herói, apenas fui espectador de uma vida sem arte registrada. Se é tarde para transformar, foi muito cedo para reconhecer. Ao menos, a sobrevivência. Porque a cor púrpura, ela esvanecerá...


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

COVER com CAVIAR



 "Eu irei lhe dizer o que eu irei fazer e o que eu não irei fazer. 
 Eu não servirei aqueles no qual não acredito mais, 
 mesmo que se intitulem minha casa, minha cidade natal ou minha igreja: 
 e eu tentarei me expressar 
 [viver] 
 de uma forma mais livre e completa possível 
 [através da arte], 
 usando em minha defesa as únicas armas que eu me permito usar 
 - silêncio, exílio e habilidade." 
 JAMES JOYCE 


 "ALL BY MYSELF" 
 ERIC CARMEM 
 by 
 Céline Dion 




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

RECUERDOS de YPACARAÍ - Idiot Wind


 IDIOT WIND 
 - BOB DYLAN - 




AUTORALLIA << O Cemitério das Coisas / por Ferdinand Who





O CEMITÉRIO DAS COISAS
O sol escarlate realça o verde-escuro dos cedros modificados que ornam a rua principal, eixo que separa em duas metades iguais aquilo que não tem mais cor e já está bem longe dali. Nas transversais, o piso irregular de paralelepípedos tortos faz olhar para baixo desperdiçando a beleza ímpar dos túmulos, erguidos para simbolizar respeitosamente a outrora existência. Mármores, granitos, outras pedras raras e também das mais simples, cobrem com véu material organismos em decomposição, que um dia desfilaram pelo mundo em função de suas essências de outra natureza. A última morada, é a primeira que temos pela frente. Tal certeza, não deve vicejar o esmorecimento como quando na chegada de qualquer doença, infortúnio ou tristeza. Pelo contrário, nestes momentos é que devemos reforçar a importância do que temos em vida, pois a pior morte é daquilo que ainda continua vivo. As cores desta manhã, são o indício de que sempre há chance, até mesmo quando estamos bem próximos de qualquer espécie de fim. Por isto, o respeito, a educação e um pouco de alegria. Assim, podemos percorrer caminhos oblíquos, que nos afastam de nossa oscilante alma black-tie. Porque a palavra, é o traje que vestimos na tentativa de entrar no evento público chamado felicidade. Felizmente, há os que combinam. Apócrifos, não há espaço para os outros venerarem suas mortes: há, tão somente, o próprio tempo, com sua indelével infinitude...