quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Mergulhando sobre o Aquífero Guarani


Meu organismo se afasta de mim, ao mesmo tempo em que tento me aproximar de minha alma. Um cabo de guerra fria interior, deslocando-me do meu próprio centro. Para onde vou? Se eu não quero ir para lá por não fazer mais sentido. Se eu não quero ficar aqui por não ser o que quero. Eu não quero ficar, quero ir, em movimento uniforme, retilíneo ou não, mas que fosse dentro de mim mesmo. Afinal, tanto que construí ao redor do meu eu, que não posso abandonar tudo isso. É tão bonito por aqui. Aqui tem praia, daqui vejo o mar. Aqui tem montanha, daqui vejo os rios. Aqui tem o campo, daqui vejo a relva. Todos os meus lugares estão aqui dentro. Não é preciso ir muito longe, para passear e dar de cara com meus horizontes. Meus passos sabem de cor o caminho. Meus braços aprenderam a direção. Mas os meus laços estão se desfazendo. Pessoas estão partindo, a maioria está de passagem, ninguém permanece. Será que eles realmente olham a minha natureza? Ou sou eu quem está enganado quanto à beleza do mundo? Teria a minha tese variante da interlocução presencial entre os sujeitos, sido superada por alguma antítese mundana pós-moderna? Estou desatualizado no tocante às alheias pautas de valores. A natureza humana, por mais bela que seja, não está sendo capaz de atrair outras pessoas, mesmo sem procurar. O belo ganhou relatividade, meu absoluto faleceu. E é com a morte de tudo isso dentro de mim que eu busco me encontrar aqui mesmo, sem sair de onde me cabe. Apenas querendo um lugar mais tranquilo, onde eu pudesse tomar sol nu, onde eu pudesse cantar bem alto, onde eu pudesse me masturbar sem culpas, onde eu pudesse sonhar com alguém caminhando volitivamente pela natureza minha. Alguém que não ficasse o tempo todo junto, em razão da atenção à sua própria natureza, outra, respeito às individualidades. Mas este alguém não existe, sonhos não dão frutos, apenas a realidade pode fazer isso. Então, que eu me contente com tudo aquilo que está ao meu alcance. Com tudo o que eu posso perceber através dos meus órgãos dos sentidos. Até com as coisas que eu não sinto, eu devo me alegrar. Com o sorriso dos outros, por exemplo, como é bom vê-los felizes, amando ou não, vivendo à sua boa maneira, cada qual de acordo com o que lhe satisfaz. Chego nessa parte de minha História, de cabeça erguida. Não destruí, não desagreguei, não causei ilícitos. Não fiz nada de desinteressante para ninguém, a ponto de me tornar interessante para alguém. Mas tenho orgulho de minha pessoa, não faria diferente se tivesse outra oportunidade. Não tive tantas chances, por não me submeter às vicissitudes nem aos caprichos do ego, o qual dominei com precisão, pois sempre pensei que Tudo que significasse emoção, devia ser natural, eu apenas fluí. Não fui bastardo dos acasos: se não encontrei, é porque não devia; se não me encontraram, é porque eu não merecia. Então a minha paisagem permanecerá vazia. Jamais de beleza, vazia apenas de outras belezas. No fundo, é muito bom morar assim. A gente vê o mundo lá fora com tanta independência, que acaba acreditando que é possível ser feliz sozinho. Mais ainda: que não é preciso ser feliz para bem viver...basta que percorramos todos os nossos caminhos internos, sem medo de onde eles possam nos levar. E há muitos espaços, como nossas angras, baías, cabos, estreitos, barras, cordões, lagunas, istmos, tômbolos, restingas, ilhas e penínsulas, são todos feitos para nós mesmos singrarmos, por isso os chamamos de nossos, simples não? Afinal, estaremos sempre e não impropriamente dentro de nós. Aquela tal independência, nunca nos fará alienar. Um coração, tem diversas funções na vida, ele não serve somente para amar. Ao menos, eu tentei. Se fui apenas Estória para todos, paciência. Agora, é obedecer a essa doce agitação do corpo, a esta saudável inquietude da alma: agora, é viajar...



Nenhum comentário:

Postar um comentário