PARANOÁS
O
lago onde são pescados saborosos filés e postas piscianos, esconde um número
indeterminado de cadáveres sociais, teimosamente conservados pela água doce e
parada. Carne vermelha e putrefata, que desnutre peixes a serem ingeridos em
nome da ilusão branca, num modificado ciclo do canibalismo darwiniano. A retroalimentação
tardia, transferindo genes não sexuais de codinome aminoácidos, feito ciranda de
sobrevivência onde espécies se entremeiam quimicamente, brincando com o
prazeroso paladar, indiretamente ativado pelos mesmos sentidos que ignoram o
conhecimento, a prevenção e a leitura. Amadores, não nos preocupamos com as
origens das coisas. Mas somos especialistas em resolver problemas a partir de
suas consequências. Título conferido pela excitante glorificação dos olhos
clínicos, do imediatismo e da conformidade plástica. Alguém me perguntaria
quando é que iremos mergulhar em nossas profundezas, eu não responderia. Mas
levaria comigo que o homem criou barcos, varas, linhas, redes e tantos outros
artefatos simplesmente para evitar se molhar, permanecendo impávido e perene na
superfície das coisas. Assim como foge da chuva, das ondas, correntezas e
demais manifestações da natureza do elemento em questão. Sem meios que elevou à
categoria de equipamentos, talvez o homem conhecesse melhor o mundo ao seu
redor, um caminho mais adequado para cientificar-se de sua própria condição
mortal, e principalmente da condição mortífera de seu semelhante. Este, também
uma nova nomenclatura para quem recentemente era conhecido como excluído. Mundo
falacioso e desigual, onde indivíduos renomeiam outros de acordo com suas
conveniências, falseando direitos e garantias como quem apelida peixes em água
salgada, em favor da subnutrição do organismo social...
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