sábado, 21 de junho de 2014

AUTORALLIA << Paranoás / por Bertold Brown



PARANOÁS 
O lago onde são pescados saborosos filés e postas piscianos, esconde um número indeterminado de cadáveres sociais, teimosamente conservados pela água doce e parada. Carne vermelha e putrefata, que desnutre peixes a serem ingeridos em nome da ilusão branca, num modificado ciclo do canibalismo darwiniano. A retroalimentação tardia, transferindo genes não sexuais de codinome aminoácidos, feito ciranda de sobrevivência onde espécies se entremeiam quimicamente, brincando com o prazeroso paladar, indiretamente ativado pelos mesmos sentidos que ignoram o conhecimento, a prevenção e a leitura. Amadores, não nos preocupamos com as origens das coisas. Mas somos especialistas em resolver problemas a partir de suas consequências. Título conferido pela excitante glorificação dos olhos clínicos, do imediatismo e da conformidade plástica. Alguém me perguntaria quando é que iremos mergulhar em nossas profundezas, eu não responderia. Mas levaria comigo que o homem criou barcos, varas, linhas, redes e tantos outros artefatos simplesmente para evitar se molhar, permanecendo impávido e perene na superfície das coisas. Assim como foge da chuva, das ondas, correntezas e demais manifestações da natureza do elemento em questão. Sem meios que elevou à categoria de equipamentos, talvez o homem conhecesse melhor o mundo ao seu redor, um caminho mais adequado para cientificar-se de sua própria condição mortal, e principalmente da condição mortífera de seu semelhante. Este, também uma nova nomenclatura para quem recentemente era conhecido como excluído. Mundo falacioso e desigual, onde indivíduos renomeiam outros de acordo com suas conveniências, falseando direitos e garantias como quem apelida peixes em água salgada, em favor da subnutrição do organismo social... 


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