DEPOIS DAS ESTAÇÕES II
Depara-te com teu hoje. Vê a face
que te veem nos dias, a mesma que tu escondes em todas as noites. Traços
indefinidos, contornam os órgãos que já não alcançam devidamente os sentidos. O
tempo venceu a batalha que não travaste com teu outro eu. Perdeste duplamente
então, antes fugindo do mundo que não devia ser, agora chegando à vida que não
se evitou. O fracasso, é algo muito singelo para simbolizar uma existência
parcial, onde tudo se interrompia. A conscientização do impossível, que finalmente tome
a frente dos teus olhos assexuados, mostrando ao breve futuro teu, que o reino
das alegrias é bem distante dali, temporal e geograficamente. Quem sabe um susto qualquer não venha tanto como surpresa, por reconheceres que aquilo foi por diversas vezes anunciado.
Pois tudo o que sofreste em cada paixão bandoleira, não passou perto da força latente
e avassaladora de teu único e verdadeiro desamor. Recolhe-te, à clausura sentimental
que ingenuamente não escolheste para sobreviver, e dela extrai o sumo dos desencontros,
matando a todo sábado uma sede que eternamente viverá. Porque o silêncio de tua
garganta, em nome da boa educação dos conviventes, nada mais foi do que o vento
que ressecaste teu sempre rosto de passados sem atitude, simplesmente pela nociva omissão em dizer para ela, “eu te amo”. Esta, tua maior verdade. O resto, são bizarras
invenções maquiadas de realidade. É que os amores mais nobres, são fruto apenas
da simplicidade dos que fazem correta e bilateralmente a higiene pessoal das impurezas do medo..