O CÉU EM MIM
A chuva forte na
madrugada fria, desvia-me do sono que não virá. Da cama para a bancada, da
imaginação para as frases ou do breu à luz, como se as tilintantes gotas geladas nas superfícies que me guardam fossem
letras cadentes as quais eu devo, despertado, organizar em meu brando solo de aridez.
Isto, para que nas manhãs de junho finalmente venham os dias melhores de mim, conduzidos
pela devida articulação de tudo que não acontece, com meu sonho quase eterno de
desejos por vezes vãos de possibilidades. Espaços em minha mente, vácuos
peitorais e cadeiras ao meu redor necessitam ser preenchidos com alguma forma
de vida importante, para que não faleça minha peregrina esperança. Meus túneis interiores
são labirintos, refúgios distantes demais da verdade externa, codinome realidade.
Se eu for da terra, que seja um ser elemental, a ponto de guiar qualquer outro
que não eu, posto que há tempos estou perdido em minhas próprias cercanias. Sim, onde passa tanta gente e não fica ninguém para ao menos dizer que vai embora. Levo a vida não a vivê-la,
mas somente a traduzir as intempéries pluviais da minha consciência
justificante. Conto com as interferências da natureza sobre os homens, a provocar
noites, disfarçar manhãs e nublar tardes, para ver se agimos na direção do
hoje. É tarde, eu sei, mas foi preciso novamente entrar em mim para tentar buscar uma outra saída...
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