"DESAPEGO"
- por Maria Cecília Faroll
Pouco importava a pálida cor daquela manhã enevoada. Despediu-se
da madrugada vivida com um beijo simbólico nos lábios cansados, rumo ao repouso
merecido. No caminho de volta, embalado pelo inesperado som do piano que talvez
fosse Bach, cruzou a avenida principal em velocidade compatível com a
tranquilidade de quem bem vivenciou em companhia bons momentos noturnos,
essenciais para a continuidade da espécie. Mas seu traçado foi invadido por um
destes modernos seres indeterminados que ignoram a importância da vida alheia,
sendo colhido na lateral de sua consciência, com impacto suficiente para abortar o seu destino de pensar.
Deixou na pista daquele cruzamento algo que ainda conduzia em sua mente: a inverdade. Renascido, prosseguiu lívido em sua nova direção, à esquerda dos seus sonhos, já tomando a via da realidade, agora com a leveza
própria de quem é livre para sentir com coragem, aquilo que a vida educadamente nos convida...
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BOCA LIVRE & ROBERTA SÁ
- "DESENREDO" (Dori Caymmi)
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