- Agora, quem abre a
boca somos nós
A cada nova
“invernada” política, afirma-se a máxima de que “a governabilidade é a
quimioterapia da democracia”. O recente levante popular, após o modernamente
tardio reconhecimento de que o berço não tem nada de esplêndido, não foi
suficientemente holístico ou integral para deixar de sermos reféns do poder
público legitimamente constituído, embora ineficaz em excelência. Em face da
caquética e moribunda democracia representativa, esse tal poder público,
ironicamente, não está nas mãos do povo, tampouco nos braços do organismo
social.
Vítimas descendentes
da outrora repressão militar, passamos a nos submeter ao maniqueísmo ideológico
esquerda-direita, os quais alternam-se no poder criando uma significativa
ilusão de representatividade cívica. Período negativamente marcante na história
do país, sua transposição necessária mas subsequentemente equivocada em sua
forma, infelizmente alijou do nosso povo um sem número de virtudes a serem
desenvolvidas, como a capacidade crítica, ética, moral, discernimento e tantas
outras mais, fatores a serem responsáveis pela emancipação popular no sentido
de galgar a sua cidadania em exercício - com devida vênia à redundância
pleonástica deste reles e prolixo manifestante. Quando Figueiredo #partiu, a
chance foi lançada.
Na selva de pedra, a
fauna era composta por então maiores não adotados que ganharam sua alforria do
orfanato, caindo sem pai nem mãe na rua da “liberdade”, com antipó capitalista
e calçadas neoliberais. Súbita e sorrateiramente (isto sim foi sorrateiro, Sr
Joaquim Barbosa), foram sete as famílias tupinambás (tupiniquins & gambás)
que instituíram-se, via suspeitos mecanismos de concessões públicas,
proprietárias dos meios de comunicação de massa, a promover o controle social
(manipulação ideológica) daquele admirável gado novo, sob a bandeira da “livre
informação”, instrumento discursivamente capaz de nos trazer ordem e progresso.
Entretanto, Excelência, não foi o que se viu, posto que essa propriedade ainda
permanece cruzada, feito uma diagnosticável /para poucos/ neoplasia, e suas
respectivas metástases /em todos/ – salvo os indivíduos componentes do oligopólio
e seus respectivos descendentes & afins.
Nem a Constituição Cidadã,
promulgada há mais de duas décadas, serviu de suporte para o próprio
cumprimento quem dera conscientização de seus preceitos, princípios e regras –
implícitos ou não – como a norma programática que instituiu o Conselho de
Comunicação Social, órgão subordinado ao Senado Federal, ineficaz até hoje.
Pois a fragmentação da realidade veiculada pelos mass media torna os
espectadores passivos, alienados e conformados, ante sua incapacidade crítica.
Sim, porque o que
sentimos, é a inversão de valores, sendo vigente a supremacia do interesse
privado sobre o interesse público, e não o contrário ideal. Recursos públicos,
oriundos da excessiva e onerosa carga tributária corrente no país, não foram nesses
‘vinte e poucos anos’ (Fábio Jr. já é tantas vezes pai) adequadamente destinados à Educação, base para
a formação, instrução e capacitação dos sujeitos federados. O não acesso a
outros direitos fundamentais elencados na Lei Maior, permite concluir sobre o
propósito deste solitário e cansativo, mas prazeroso manifesto.
"Então,
Bial..." (pqp!!) o que interessa:
Infelizmente, a
Odontologia continua uma província da Medicina. Em semanas de manifestações,
não se ouviu nenhuma reivindicação por parte da classe profissional
odontológica. Parece que os diretores dos Conselhos de Classe regionais e
federal, igualmente das associações, estão plenamente satisfeitos, bem como os
integrantes dos órgãos públicos, chegando tal contentamento até as academias.
Não, é muito pior: os
Cirurgiões-Dentistas profissionais estão de braços cruzados, inamovíveis dentro
de seus consultórios. Seu status quo lhes é razoavelmente aceitável, a ponto de
ignorar as causas da ausência de saúde bucal no país dos edentados: “pouco
importa se aquele que não é meu cliente não tem dentes”. É a mão invisível do
mercado a tratar das bocas carentes à base da livre concorrência, transformando
pacientes humanos em clientela de giro .
Do lado não privado, a
precariedade dos serviços públicos e as péssimas condições de trabalho, quando
não, a burocracia do sistema, incorre na continuidade da situação caótica em
que se encontram as cavidades bucais da população, principalmente em relação a
falta de estrutura e, mais ainda, à prevenção e o autocuidado permanente da
higiene oral individual, enquanto formação de hábito, gerador de condutas,
proveniente de comportamentos, em nome da higidez - o que também afeta
particulares, denotando a generalidade cultural do problema.
Tudo isso porque a
cultura de saúde no Brasil prevalece a Medicina, mas em importante detrimento
da Odontologia. Note-se que não existem residências odontológicas subsidiadas
pelo MEC, como também inexistem programas voluntariados, ONGS, OSCIPs, ou
demais serviços ou campanhas que, efetivamente, promovessem a restauração da
saúde bucal no sentido de restabelecimento de estética e função, permitindo à
população o acesso a tais serviços, tantos básicos ou complexos, mas ambos
fundamentais.
As universidades não
ensinam adequadamente sobre consciência pública ou coletiva aos seus discentes,
os quais, quando egressos, apenas revivem nas comensais associações estaduais
conteúdos acadêmicos nos cursos de aperfeiçoamento, deixando às especializações
o conhecimento que realmente deve se agregar, jamais sem um excessivo custo:
enquanto o Médico recém-formado recebe para se qualificar, o Cirurgião-Dentista
tem de pagar por isso. Pagar também em duvidosos e espertalhões cursos não
reconhecidos para adquirir modernidade, inobstante o motivo privado que os
donos dos mesmos justifiquem sua existência, mais voltada para a própria
sobrevivência mercadológica. Na verdade, voltado para o lucro, como uma simples
atividade econômica de mercado, longe de qualquer conotação pública ou social, valendo-se unicamente do laissez-faire.
A escassez de
pacientes nos consultórios particulares drenados para o atendimento de massa
nas clínicas populares, faz da profissão um carrossel de empatias e descontos,
sem envolver qualidade, quesito essencial para os sucessos nos tratamentos. A
desvalorização dos profissionais da Odontologia, submetidos às vulneráveis para
não dizer hipossuficientes relações de trabalho, subempregados no esclavagismo
intraespecífico das clínicas particulares, em sindicatos e principalmente no
setor público, é prova inconteste dessa subserviência à cultura médica
dominante, seja financeira, estrutural ou relacionalmente. Basta acompanhar o
salário oferecido aos profissionais de saúde nos concursos públicos, junto com
sua respectiva jornada.
Exemplo odontológico
1: concurso para Prefeitura de Poço das Trincheiras/AL – duas vagas – 40 horas
semanais – R$1.500,00; Exemplo 2 (mais perto): Marilândia do Sul/PR – uma vaga
– 40 horas semanais – R$1.200,00. Se isso é salário, imagine-se quais serão as
condições de trabalho...um anestube para quem conseguir.
Então, importa-se
médicos estrangeiros sem necessidade de exame de qualificação profissional ou de
proficiência de língua, enquanto no país falecem anualmente cerca de cinco mil
pessoas vítimas de câncer bucal, com estimativa de duplicação, a cada novo ano,
para novos casos, caracterizando a progressão aritmética da omissão dos
gestores públicos, legisladores e CIA limitadíssima. Todos remediadores das
consequências, sem tratar suas causas. "Tome um paliativo, chamado
Plebiscito."...putz grila!
Ora, Meritíssima...é
uma questão de prioridade, pois governar é determinar prioridades, alocando
recursos. Mas como reconhecer a insuficiência do sistema odontológico do SUS, o
qual é excepcional em tese, mas obsoleto em eficácia? Porque o cerne do
problema está em sua gestão, a qual tem raízes políticas. Por isso, os índices
de moléstias da cavidade bucal têm alta incidência, teimosa prevalência e
requerem incansável paciência, por ser a saúde bucal uma questão de natureza política, o que requer simplesmente vontade política, algo que advém de alteridade.
Por isso, somos reféns
daquele maniqueísmo ideológico esquerda-direita, os quais alternam-se no poder
criando uma significativa ilusão de representatividade cívica (bis). Ainda não
sabemos votar, ainda somos órfãos de representatividade, porque ainda somos os
mesmos e vivemos como os nossos pais.
Urge que os CDs se
reúnam, criando fóruns de debates, manifestando-se através do diálogo, da
intersubjetividade, para estabelecer propostas de mudança desse establishment
de corrupção e impunidade, e reivindicar direitos não só para si, mas sobretudo
para o povo, em busca de um consenso que elabore um plano de metas a conquistar
a emancipação da Odontologia, desmembrando-se culturalmente em gênero, grau,
relevância e mérito da Medicina: CONSCIÊNCIA, INDEPENDÊNCIA e AUTONOMIA JÁ!!!!
Enquanto isso não
ocorre, a Odontologia permanecerá social e cientificamente secundária à coisa
pública. Enquanto membros do Executivo, Legislativo e Judiciário têm condições
financeiras de fazer enxertos ósseos e colocar implantes de carga imediata, a
maioria da população brasileira segue ‘banguela’ e com vergonha de procurar
emprego em razão da ausência de órgãos dentários. Diante do próprio conceito de
saúde estabelecido pela OMS (...é o estado de completo bem-estar físico, mental
e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez), a rasteira proposta de
“Mais Médicos”, comprova o amadorismo, a negligência e a inconsciência política
que assola e devasta o território nacional.
Infelizmente, muita
gente não leu até aqui. Pior ainda, muita gente não fará nada por alguém além
de si mesmo. E é justamente gente assim que está no poder. Enquanto tucanos
evitaram o aumento do piso salarial dos CDs e o reconhecimento pontual das
profissões de THD e ACD, os petistas e sua base governista ignoram
contextualmente a saúde bucal. Ou seja, mudam os atores, nunca a fantasia,
muito menos o enredo. Assim, sucumbe no espaço do tempo aquilo que chamar-se-ia
de “desenvolvimento”.
Os direitos presentes
são nada mais do que as garantias, prerrogativas, auxílios, vantagens e
‘facilitudes’ conferidos exclusivamente aos integrantes dos três poderes, cuja
harmonia e independência valem única e exclusivamente para seus membros,
deixando às margens da sociedade o organismo social. Pasme-se, mas o sistema
estomatognático também faz parte desse organismo!
“Estado de bem-estar
social”...onde começa?
- Chegará o dia em que
cada elemento dentário será considerado 1 (um) órgão do corpo humano, não mais
um reles componente de outro: necessária concepção política, não apenas
biológica.
p.s.: “O homem, é um
animal político” (Aristóteles).
p.s. 2: “Quando
acabar, o maluco sou eu.” (Raul Seixas).
Edw.
Nenhum comentário:
Postar um comentário