sábado, 29 de dezembro de 2012

KAMASUTRA


 "FLORES ASTRAIS" 
 SECOS & MOLHADOS 



Alta madrugada. As armadeiras bailam ao som do cântico dos morcegos rasantes. Das poderosas loxosceles e das corais ectópicas, dos escorpiões forasteiros, passando pelos uivos solitários dos chacais, até os desconhecidos guturais pássaros longínquos, dentre tantos outros, inaugura-se uma sinfonia em sustenido, cortando o breu dos espectadores ignorantes à natureza. Exótica fauna de seres rastejantes e voadores, recebem eles a visita do meu eu intrínseco, exteriorizado em busca de um luar qualquer. Rotina que permanece, já que o sol é ausente à luz dos meus dias. Um mundo soturno, onde as paralelas se encontram, para todos aqueles que sentem a vida somente à noite. Aqui é o nosso reino, aqui é o meu país. E que o hidrogênio astro pai se desfaça, transformado em pepitas de fogo, dizimadas pelo atrito do choque atmosférico, porque o escuro nos basta. Nesta abissal de avessos, serve-nos o feixe de relâmpagos, a lembrar daquilo que um dia foi bom. Todos nós, os notívagos, fomos por instinto preparados para o fracasso do planeta diuturno. Bebemos orvalho, alimentamo-nos de nossos próprios restos e nosso perfume vem da orquídea negra, a espécie de flor que domina o território das almas sem expectativa alguma de que a vida aconteça em periélio. Já que o sol é infanticida, consideramo-nos filhos adotados pela lua. Damos parabéns às nuvens, símbolo acinzentado do equilíbrio entre a cor de nossa mãe e a dos nossos corações. A única diferença, é que ela não mostra o seu lado escuro. Nós, escrotos animais arrolados em escala zoológica única, temos orgulho de pertencer à sua linhagem. Mortuus mundi, essa é a nossa casa.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Contos sob a copa das Araucárias

 NOTURNO 




Um leve gemido, seguido por um breve suspiro...e ela dormiu no calor dos meus braços. Instante mágico que perdura no tempo, na permanência da sensação única que não se vai. E quando um sereno momento desta amplitude atravessa os dias, é sinal de transformação. Porque eu dei-lhe minha voz, ela devolveu em forma de sorriso. Meu olhar teve a resposta do seu, acompanhada por brilho singular. Alcancei a ela as palmas de minhas mãos, ouvindo seu aplauso em silêncio. Então nossos corpos se entregaram, à sombra de uma enluarada noite, a qual o tempestuoso granizo não conseguiu esconder, calar ou muito menos temer. Era o luar em nós, que a gente bastava sentir. Pois quando a flor amarela é candieiro, servindo como guia através da madrugada, é provavelmente a anunciação de se estar, enfim, no caminho. Dessas luzes que a natureza nos traz por intermédio do destino, um meio que não se preocupa com indeterminados fins. Basta a sua companhia, que o resto, alvorecerá... ]