segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Gabão Sem Fronteiras




Gabão Sem Fronteiras

Eu digo, mesmo que para todo mundo que não me ouve, que a vida se demora. E o mundo sem me contestar, diz que não, que ela é muito breve, que o tempo não para, emprestando letra de música, não fosse jargão popular.

Parece que foi ontem. Uma gravidez de risco, nefrolitíase conjunto com antibioticoterapia, tu haverias de nascer em estado melhor possível. Não bastou, foram necessários os antimicrobianos, tarjas-pretas, com bulas tão amedrontadoras quanto uma ficção apocalíptica.

Até que, naquele princípio de feriado nacional, nasceu este rebento via cesariana: um grito às margens do Brígida, a independência, a emancipação e o alívio, pois viestes em perfeito estado, sem importar se a nação é imperfeita.

Morena e de cabelos (posteriormente) lisos, antônimo da irmã Flávia, Gabriela veio ao mundo para ser rara Gabriela, e não mais uma. Uma bolinha que foi crescendo e nos absorvendo, sempre em calmaria, parecendo a todo momento navegar em mar de Almirante. Raríssimos rampantes, como a rejeição à areia da praia em São Francisco do Sul, onde permaneceu enfurecida dentro de uma canoa fundeada na beira.

O aniversário de um ano, comemorado na tranquila pousadinha na Vila da Glória, hoje se interpreta como anunciação sobre teu sereno e altivo espírito, no sentido de modo e futuro.

Mas eis que tu viraste cobra, como pode? Pois pôde, em razão do teu destaque dentre tantos na educação de massa. Troféus que te traziam vergonha no sentido de timidez, preferias o anonimato. Mas o palco é o teu lugar, inolvidavelmente.

Sim, parece que isto, ou tua conduta e comportamento, têm a ver com o significado do teu nome, “mulher forte de Deus”, enfrentando a vida com equilíbrio e maestria.

Recebestes tão cedo, aos nove anos, um desafio com formato de obstáculo e jeito de transposição impossível: qual o quê, teu tamanho não era aquele que a idade sugeria. Aos poucos, iniciastes a compreensão da vida, criando linha de raciocínio que desenvolveu dimensionalmente tuas interpretações do fenômeno existência humana.

Quem fala contigo hoje, quando soltas a voz, imagina uns 30 anos dentro de 17. Tentei iniciar-te na música, tu saberás um dia se vale a pena. Agora, ocupou-se de algo fundamental, a profissão.

Aquilo que era dúvida, de repente se transformou em certeza, não demorando a se consolidar o início do caminho. E que caminho... a busca da cura dos males humanos, coisa para poucos. Pois são poucos aqueles que veem na saúde, a base de tudo, para o devir. O resto, a maturidade se encarregará, trazendo-te o aprendizado com as experiências do enfrentamento, algo que tu sabes fazer bem, com dignidade, reflexão e precisão.

Ora zen, ora tagarela, é assim que tu atravessas a passarela do teu tempo. Nem a fama nem as pompas, o que te vale é tua essência, anônima e modesta. Terreno para uma boa construção de teus valores, quiçá sempre atualizados, reciclados, reforçados e defendidos perante eventuais obstáculos, até os que pareçam intransponíveis.

Meu orgulho se repete, dando vazão à minha vertente de lágrimas cativas, num rio que só eu vejo, só eu sinto, só eu reconheço, é coisa particular. Mas ele corre, tem seu curso, direção e trajetos definidos, quem sabe desemboque no mar. Na contramão da minha glória, eu reconheço e valorizo a conquista alheia, principalmente quando de minhas filhas.

E se as lágrimas e os abraços misturados à soluços e lama com tinta não se demonstram suficientes, recorro a esta correnteza de palavras que formam frases, as quais, tentam, minimamente, traduzir a emoção que há no leito, do meu peito. É o que sei fazer direito.

Falando nisso, repito que:

“A Odontologia me trouxe a noção de espaço. O Direito, de tempo.  Das grandezas dimensionais, só o amor não é precedido pela ciência.”

Então, querida filha, que a Medicina possa te trazer os instrumentos através dos quais tu poderás não só prevenir e curar doenças do nosso povo, mas também realizar-te profissionalmente.

Copiei e colei da homenagem que fiz para a tua irmã, em momento similar:

 "Em momento de festa, pensa que essa manifestação é um grande bolo de parabéns, e os docinhos vêm a seguir, em forma de conselhos. 
- Não esperes reconhecimento de ninguém, atribuir valor ao teu trabalho é competência exclusivamente tua. 
- Não esperes ajuda de ninguém, o teu dever será reflexo somente de tua capacidade. 
- Escolhe a critério justo tuas companhias, pois nem todas estarão lá pelos mesmos motivos (sonho) e objetivos (realização) teus. 
- Dedica-te ao máximo que puderes à faculdade, para que depois, no exercício da profissão, trabalhes com sabedoria, segurança e retidão. 
- Desenvolve sobretudo aquilo que chamam de consciência social, pois tua preparação/formação também será voltada para diagnóstico, tratamento e cura dos menos favorecidos, ou seja, dos que mais precisam de ti, os cidadãos do mundo. 
- Mantém como tua conduta, o equilíbrio, a serenidade, a humildade e a verdade para com o próximo, sempre considerando o binômio tempo e espaço, inclusive no tocante ao sigilo profissional. 
- Não desanimes, diante das novas formas de obstáculos que surgirão em tua estrada: teu conteúdo, congênito e adquirido, será o instrumento para ultrapassá-los com maestria.  
- Lembra que a Medicina é uma Arte. E como disse Nietzsche, “Temos a Arte para não morrer da verdade.” 
- Estuda a fundo a Ética. Ela é a maior e melhor condutora dos profissionais no sentido de superação de todas e quaisquer fronteiras... 

Um beijo, saúde, felicidades e continuidade em teu sucesso.
Eduardo, seu Papão Lixa.

Ps:   há mais valores nestas poucas linhas, do que a nossa vã racionalidade possa desconfiar...
(o restante, também tens no sangue)"


Curitiba, 01 a 04 de novembro de 2019.